a primeira vez que nasci
teve tradicional configuração,
reza a história, que eu não assisti.
gemidos de complexa composição,
de dor e de euforia,
talvez mais de libertação,
por parte da mãe-criadora.
mulher de coragem, note-se,
que a primavera da vida
já tinha passado, faz tempo.
algum provável choro,
de revolta ou de prosaica
palmada nos glúteos
do protagonista do acto
(este que vos escreve)
energicamente aplicada por diligente enfermeira.
lavado, escovado e alimentado,
deitaram-me no berço hospitalar
reservado para essas ocasiões.
fechei os olhos,
fingi que dormia e pus-me a pensar.
sim, a pensar,
não da forma despegada e preconceituosa dos adultos,
mas a pensar como só as crianças pensam.
e senti que alguma coisa não estava bem
não, não é isso,
dedos, olhos, orelhas ....
essas minudências contavam-se pelo número habitual
implantadas nos locais convencionais.
era outra coisa
assim uma sensação estranha ....
de não me sentir bem vindo.
Março 2009
segunda-feira, 4 de maio de 2009
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