sexta-feira, 8 de maio de 2009

A ESCOLA 151

A Escola 151 era uma escola,
igualzinha às outras escolas da época.

Tinha cheiro a escola.

Tinha paredes brancas,
telhados vermelhos e salas de aula.

Tudo a dobrar, é claro,
é bom não esquecer
que as meninas e os meninos
tinham que aprender separados.

Tinham mesmo que brincar separados,
o Muro do recreio tinha essa responsabilidade.

Guardar o recato das meninas.

Ou seria para preservar os meninos na sua masculinidade?

A Escola 151 tinha também,
como certamente todas as outras,
uma professora de aritmética,
D. Emilia,
que era dona do quadro preto.

E de um objecto a que ela chamava
instrumento pedagógico
mas que para nós era a menina-de-5-olhos porque,
qual anjo vingador,
tudo via e tudo sabia.

E que punia sem piedade
as meninas e os meninos
que pecavam nas contas de subtrair.

Ricos ou pobres,
que para o instrumento pedagógico não havia classes.

Pudera, diriam alguns, eram todos pobres!

Alguns seriam,
como na altura se dizia,
remediados,
que burguês não se podia dizer,
tinha um contexto menos avisado.

Certa tarde de Inverno,
rigoroso como os tempos de então,
a chuva foi tanta, tanta,
que o muro que guardava o recato das meninas, caiu.

Na manhã seguinte,
os meninos de um lado
e as meninas do outro lado do muro que tinha caído,
olharam-se.

E cada um ficou do seu lado
como se o muro não tivesse caído.

Não eram passados dois dias,
caíram todos os muros de todas as escolas daquele País.


Abril 2007

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