A couve, no seu pé, era linda.
Não era muito alta, que isso são as galegas.
Mais tronchuda, mais portuguesa.
Forte de pé e de peito,
coração grande e sensível.
Verde, claro, como todas as couves que se prezam.
Que ele as há vermelhas, transgénicas certamente.
Ou pior, infiltradas.
E sem flor,
nada de ornamentos de duvidoso significado.
Folha larga, aberta ao vento, suave ao toque,
sem as rugas do repolho.
Chamam-lhe Portuguesa.
Esta couve,
é bom que se diga,
não o é tanto assim.
Vá-se lá saber porquê,
no Norte,
chama-lhe Penca a minha avó.
Ainda se fosse Penca-Portuguesa,
mas não, é Penca só.
Não importa,
basta um breve olhar
para que o espírito da couve
nos encha o imaginário
dos feitos gloriosos dos nossos ancêstemos.
A nobreza do peixe cozido
cairia da cota de armas sem o suporte da couve.
E atente-se,
que o magnífico Cozido não seria à Portuguesa
sem o luso vegetal que lhe dá o nome!
E a sopa?
Que seria da sopa,
alicerce cultural da gastronomia portuguesa,
sem o aconchego da Penca?
Oh varões de Portugal,
faça-se justiça,
sublime-se a História!
Substitua-se já a esfera armilar da bandeira portuguesa
por escudo de quatro couves em campo de trigo!
Março 2007
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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Rogério!
ResponderExcluirQue belo poema às couves!
De agora em diante, ao degustar uma boa couve, saberei que ela de alguma forma estará também impregnada de poesia.
Um beijo.
Ana Lúcia