Que gorda que era a menina!
Não era redonda, nem forte,
nem eufemisticamente cheia,
muito mais grossa que fina.
Era gorda mesmo, qual baleia!
Comia a vida e a morte,
comia de dia e de noite,
por gula, apetite ou deleite
de tudo, tudo comia!
De tudo... salvo seja!,
desde que fosse poesia!
Não questionava o género,
fosse didático ou lírico,
fosse épico ou satírico,
tudo comia sem mastigar!
Mais seria de admirar
que a métrica a incomodasse!
No que toca a silabar,
ao menos um pentassílabo!,
– diria a quem perguntasse.
Mas para a fazer salivar,
um rijo dodecassílabo!
Quanto à música poética,
versos duros, cacofônicos,
versos soltos, sibilantes
de todos, os homofônicos
eram os mais irrelevantes.
Sobre as estrofes, a estética
em nada a preocupava,
fosse um soneto ou uma décima,
um rondó ou uma sextina
de forma igual tudo amava.
Na definição dos temas, porém,
desenvolveu uma alergia,
depois de odes ou madrigais,
não lhe assenta muito bem
éclogas, sátiras ou elegias.
Acrósticos ou pastorais
têm problemas semânticos,
não se podem misturar
com hinos, salmos ou cânticos.
Já nénias e epicédios,
ditirambos, epigramas,
é de comer até fartar.
Não obstante os remédios,
triste fim tem esta rábula,
acabou mal a menina,
foi morrer de falta de ar
entupida por uma fábula.
Novembro 2008
sexta-feira, 8 de maio de 2009
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