A minha rua é mais bonita que a tua!
dizia eu, teria aí uns 5 ou 6 anos.
Como a minha mãe... também é mais bonita que a tua!
O meu pai? Ah, esse não sei, nunca conheci.
Dizem-me que morreu cedo.
De umas vezes, de acidente nunca definido.
De outras, de morte natural, que se teria ficado a dormir.
De outras ainda,
esquecidas as anteriores versões,
de doença grave com grande sofrimento.
Como se me interessasse a causa da morte
ou qual a mais elaborada mentira!
Porque eu sabia, de saber seguro,
daquele que vem de dentro e não carece de prova,
sabia porque sabia e pronto!
que o meu pai estava vivo e se recomendava.
Bem, hoje já poderá não estar vivo,
não sei nem me interessa,
mas que esteve bem vivo muitos e bons anos,
lá isso esteve.
Longe de mim,
em qualquer lugar,
com qualquer pessoa que não era a minha mãe,
certamente feliz.
Talvez se lembrasse, não sei,
nas ocasiões do costume,
natais e aniversários,
do filho que teria semeado e se estava fazendo homem,
talvez.
Não que o meu pai me fizesse alguma falta!
Só faz falta quem está,
dizia a minha mãe, com excessiva convicção.
E eu concordava,
pois a minha mãe,
a mãe mais bonita do mundo,
era minha mãe e meu pai,
oferecia-me a sua vida para que eu viesse a ter vida.
E tanto me deu que a sua vida se esgotou em mim.
Como as flores, começou a murchar e,
num dia igual aos outros,
teria eu os meus doze anos,
secou e morreu,
a minha mãe.
Agosto 2007
quinta-feira, 4 de junho de 2009
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