era um apartamento comum
daqueles a que nunca pertencemos
apenas por lá passamos
numa rua de qualquer nome
que desaguava na avenida do mar
edifício de esquina
belo e decadente
prenhe de história
qual velha senhora de rosto marcado
pelo tempo que esgaça
e descolora as baínhas
dos vestidos que se vestem e revestem
quarto sala e kitchenette
esgotavam o espaço útil
janela rasgada ao chão
debruçada para saguão comunal
trazia vozes e cânticos e choros
de pessoas de muitas falas e cores.
e as baratas
as baratas rodando as antenas nervosas
e a sua procura incessante
por recantos húmidos e poeirentos
não era a ocasional barata doméstica
eram filas de famílias de baratas
em contínuo e noturno movimento
sem metamorfoses kafkianas
eram apenas nojentas baratas
francesas de Nice.
Março 2009
sexta-feira, 5 de junho de 2009
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