quinta-feira, 4 de junho de 2009

MELODRAMA MULTICULTURAL

O homem que bateu no cão
que mordeu no gato
que comeu o rato
que roubou o queijo
do Manuel que não faz parte desta história.
.......

Assim mesmo, como em Drummond,
Começa o melodrama.


Maria: João, estou farta! Vou-te deixar!

João: Outra vez essa conversa? Podes começar a andar!

Maria: Oh João, é que não és tu, é o outro....

João: O outro? Qual outro?

Maria: O outro João, que és tu, às vezes!

João: Pronto! Agora é que estragaste tudo!
Tu tens outro homem? Outro João?

Maria: Arre! João, que além de careca és estúpido!

João: Deixa lá a minha careca,
se não começo a falar das tuas varizes!

Maria: Das minhas varizes?
Ah agora já não gostas!
Mas quando me quiseste levar p’ra cama
dizias que as minhas varizinhas
até pareciam o mapa hidrográfico do Brasil!
Nunca percebi isso,
mas achei que devia ser coisa bonita,
tu falas tanto das mulheres do Brasil!

João: Mulheres do Brasil?
Eu nem conheço nenhuma brasileira!
Bem, com a exceção da Creuza,
que me faz as unhas no barbeiro...
mas essa já é mais portuguesa que tu,
até canta o fado...

Maria: A Creuza canta o fado no barbeiro?
Explica lá isso bem explicadinho, Joãozinho!

João: Bem.... no barbeiro não,
canta é no bar do Petrecheque,
aquele meu colega ucraniano da construção
que te apresentei há dias.
Eu disse-te que ele explorava um centro cultural,
onde aos sábados à noite fazemos reuniões de trabalho.
Não tem nada de mal a Creuza animar as reuniões!

Maria: Creuza? Olha meu querido,
a Creuza durante a semana chama-se Joaquim,
é padeiro e vem-me trazer o pão todos os dias
depois de tu saíres p’ró trabalho!

João: A Creuza é o padeiro?
Bem, bem, bem ....oh Maria,
agora és tu que tens que explicar isso bem explicadinho!

.......................................

O melodrama continuou mais ou menos nestes termos
por cerca de 8 horas,
até o Joaquim/Creuza bater à porta
trazendo três baguettes frescas de tamanho respeitável
e dois brioches,
acompanhado/a do/a Petrecheque que,
aliás, também era Karina.
João e Maria, exaustos, confundidos e esfomeados,
não tendo já a menor ideia
de como teriam começado a discutir
nem de qual era afinal o tema da conversa,
decidiram tomar o pequeno almoço todos juntos,
refeição esta que se prolongou até às 5 da tarde.


Fevereiro 2009

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