quinta-feira, 4 de junho de 2009

A MINHA MÃE

A minha rua é mais bonita que a tua!
dizia eu, teria aí uns 5 ou 6 anos.

Como a minha mãe... também é mais bonita que a tua!

O meu pai? Ah, esse não sei, nunca conheci.

Dizem-me que morreu cedo.
De umas vezes, de acidente nunca definido.
De outras, de morte natural, que se teria ficado a dormir.
De outras ainda,
esquecidas as anteriores versões,
de doença grave com grande sofrimento.

Como se me interessasse a causa da morte
ou qual a mais elaborada mentira!

Porque eu sabia, de saber seguro,
daquele que vem de dentro e não carece de prova,
sabia porque sabia e pronto!
que o meu pai estava vivo e se recomendava.
Bem, hoje já poderá não estar vivo,
não sei nem me interessa,
mas que esteve bem vivo muitos e bons anos,
lá isso esteve.
Longe de mim,
em qualquer lugar,
com qualquer pessoa que não era a minha mãe,
certamente feliz.

Talvez se lembrasse, não sei,
nas ocasiões do costume,
natais e aniversários,
do filho que teria semeado e se estava fazendo homem,
talvez.

Não que o meu pai me fizesse alguma falta!
Só faz falta quem está,
dizia a minha mãe, com excessiva convicção.
E eu concordava,
pois a minha mãe,
a mãe mais bonita do mundo,
era minha mãe e meu pai,
oferecia-me a sua vida para que eu viesse a ter vida.

E tanto me deu que a sua vida se esgotou em mim.

Como as flores, começou a murchar e,
num dia igual aos outros,
teria eu os meus doze anos,
secou e morreu,
a minha mãe.


Agosto 2007

Nenhum comentário:

Postar um comentário