segunda-feira, 14 de setembro de 2009

NADA

Nada
Contra a minha vontade
Nada
Contém o desgosto de ter tudo
A saga de ter muito
Para no final
Não ter nada
Para ser
Tudo o que não posso ser
Ou não quero
Ser nada contra evidências
Ou meras parecenças
Do que poderia ser tudo
Não importa o que é
Só interessa o que tem
Mesmo que não tenha nada
Mas pareça que tem

Nada
Contra a minha vontade
Nada
Que me impeça de partir
Quando já não tiver nada
Ou pior
Quando tiver tudo

Nada
Contra a minha vontade
Nada
Que me faça pensar
E decidir por tudo e por nada.

MUDANÇA

as pessoas acomodam-se,
vestem os hábitos do hábito,
marcam territórios,
desenham rituais e definem rotinas
que as confinam às suas gaiolas paroquiais
que as protegem da mudança.

a mudança que acende revoluções,
que troça das celebrações dominicais,
que abala os atávicos medos,
que abre brechas nas muralhas da certeza
tão absoluta quanto efémera,
que abana os bastiões da mesmice
dos horizontes conhecidos,
que rasga as convenientes tradições,
………………..
é uma maçada!

mudar para quê, pergunto!
como o outro … o heliocentrista
que lhe valeu a fogueira!
alguma coisa mudou? o sol ficou onde estava
e a terra continuou a rodar, impávida.

para bem da humanidade, pois então!
…alguns dizem de voz grossa, convencida!
para que acabem as guerras
e as crianças não morram crianças
e os pobres deixem de o ser antes do céu prometido
e que a rua não seja a casa de quem não tem casa
e que toda a gente tenha pão
ainda que só uma vez ao dia…

afinal, … era mesmo o que eu dizia
mudar é uma maçada!