sexta-feira, 1 de maio de 2009

INTROSPEKT

Sempre quis ser actor.

Mas não queria,
verdadeiramente.

O que me atraía
era a ideia de o ser.

Não era o palco,
as luzes,
as pessoas,
nem sequer o reconhecimento.

O que me atraía,
verdadeiramente,
era poder não ser eu,
ser outro.

Era a máscara,
a outra vida,
de outro que não tivesse que ser eu,
sempre.

A fadiga de ser eu,
e o desejo de não ser.
Mas quero sempre voltar
Ao eu que me penso ser.

Não vivo bem comigo.
Talvez.

Mas o que me parece,
verdadeiramente,
é que o eu que me deram
não chega.

Tenho que ser mais do que um.
(embora por vezes queira ser nenhum.)

Sempre quis ser actor.


Outubro 2006

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