quarta-feira, 16 de março de 2011

EM PENSAMENTO

Hoje fui a Belém, em pensamento,
e voltei pela vigésima-sexta hora,
ainda a tempo de escrever três poemas vazios
mais um naco de prosa sobre coisa nenhuma,
em pensamento.

Lá para meio do caminho, em pensamento,
colhi uma mão cheia de poeira
do último anel de Saturno
e com ela, em pensamento, construí
um obelisco à minha pessoa.

Na realidade, este é o meu sonho,
ter um obelisco bem alto e pontudo
com o meu nome escrito em tipo garamond
pintado a folha de ouro que, na realidade,
eternizasse as boas obras que não fiz,
os livros que não escrevi
mais tudo o que deixei por fazer.

Na realidade, não há nada que,
em pensamento, não tenha feito,
vitória que não tenha obtido,
combate que não tenha ganho.
Na realidade, em pensamento a realidade
escreve-se com pau de giz em quadro preto
que se apaga e rescreve
ao sabor do pensamento.

Realmente, quando penso no assunto,
eu sei, em pensamento,
que a realidade não é mais
que um filho indesejado
de um pensamento inconcebível.
Penso eu.

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