Decidi fazer uma promessa.
Promessa a sério,
sem desculpas nem desvios,
d’antes quebrar que torcer.
Não, não é nada dessas promessas comuns,
próprias de gente pequena, …
não comer, não beber, não jogar,
dar esmola ao pobre, não faltar à missa,
não dizer palavrão nem ofender o patrão.
Nada disso!
Prometi não morrer.
Sim, não morrer, que é que tem demais?
Há muita gente que não morre!
Não, não é dessa coisa figurativa de Camões,
de se libertar da lei da morte
através de obras e feitos e mais não sei quê!.
A minha é mesmo de ficar vivo!
Falar, escrever, respirar,
Ensinar e aprender os mistérios da lua e do sol,
Beber, comer, contemplar
o céu, a terra e o mar
e ver os filhos crescer
e ensinar os netos a pintar
os primeiros desenhos da mãe e do pai
e adormecer e sonhar e sonhar
e sonhar
e sonhar
Dezembro 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
PESSOA
Teria quatro anos, não mais, o menino,
quando as primeiras letras começaram
a bordejar o seu ainda curto caminho.
Primeiro foi o A, depois o B e depois
logo vieram todas aquelas figurinhas
que, se juntas em determinada ordem
e pronunciadas pelos sons que lhes eram associados,
formavam, quase miraculosamente,
imagens de pessoas e coisas e cores e animais
e tudo o que havia na aldeia e, quem sabe,
talvez na terra inteira e até mais além!
E o menino se apaixonou pelas letras!
E deixou o carrinho de rodas de esferas
e esqueceu o arco e os berlindes e a bola de trapo.
Até os amigos e as brincadeiras de criança
se reduziram nos seus interesses
(que nunca lhe tomaram demasiado tempo,
verdade seja dita e jurada,
pois o menino sempre tinha sido mais de sizo que de riso).
E nunca mais o menino deixou as letras
nem estas o perderam de vista mais que um instante,
e o menino cresceu e leu e escreveu
e escreveu o que mais ninguém tinha escrito
até que se fez grande e se tornou pessoa.
Morreu cedo, o menino, e com ele
morreram todas as pessoas
que com ele, com o menino,
eram a mesma pessoa.
“Se assim aconteceu,
Assim está certo”.
Dezembro 2009
quando as primeiras letras começaram
a bordejar o seu ainda curto caminho.
Primeiro foi o A, depois o B e depois
logo vieram todas aquelas figurinhas
que, se juntas em determinada ordem
e pronunciadas pelos sons que lhes eram associados,
formavam, quase miraculosamente,
imagens de pessoas e coisas e cores e animais
e tudo o que havia na aldeia e, quem sabe,
talvez na terra inteira e até mais além!
E o menino se apaixonou pelas letras!
E deixou o carrinho de rodas de esferas
e esqueceu o arco e os berlindes e a bola de trapo.
Até os amigos e as brincadeiras de criança
se reduziram nos seus interesses
(que nunca lhe tomaram demasiado tempo,
verdade seja dita e jurada,
pois o menino sempre tinha sido mais de sizo que de riso).
E nunca mais o menino deixou as letras
nem estas o perderam de vista mais que um instante,
e o menino cresceu e leu e escreveu
e escreveu o que mais ninguém tinha escrito
até que se fez grande e se tornou pessoa.
Morreu cedo, o menino, e com ele
morreram todas as pessoas
que com ele, com o menino,
eram a mesma pessoa.
“Se assim aconteceu,
Assim está certo”.
Dezembro 2009
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
O VENTO
O vento rodopiava, violento,
p’lo meio da tarde longa de verão.
Trazia calor e areia com cheiro de áfrica,
sugava a seiva vital das árvores
e secava por dentro as cascas dos bichos
e encasulava em solidão as pessoas,
rendendo a terra às espirais de pó.
O vento rodopiava, violento,
p’lo meio da tarde longa de verão.
Acolhido a um barraco de adobe,
boca de palha e olhos parados
fixados para além do nada, o homem,
abraçado aos joelhos como feto sentado,
conjurava as forças dos sonhos passados,
deixava a alma subir ao teto
para olhar o seu corpo-feto sentado no chão.
O vento rodopiava, violento,
p’lo meio da tarde longa de verão.
E o homem esperava, esperava
com a paciência vidente dos que sabem,
com a humildade atávica dos sem-nome,
que as velas do vento amainassem
e devolvessem o tempo aos homens.
Mas o vento rodopiava, violento,
p’lo meio da tarde longa de verão.
Dezembro 2009
p’lo meio da tarde longa de verão.
Trazia calor e areia com cheiro de áfrica,
sugava a seiva vital das árvores
e secava por dentro as cascas dos bichos
e encasulava em solidão as pessoas,
rendendo a terra às espirais de pó.
O vento rodopiava, violento,
p’lo meio da tarde longa de verão.
Acolhido a um barraco de adobe,
boca de palha e olhos parados
fixados para além do nada, o homem,
abraçado aos joelhos como feto sentado,
conjurava as forças dos sonhos passados,
deixava a alma subir ao teto
para olhar o seu corpo-feto sentado no chão.
O vento rodopiava, violento,
p’lo meio da tarde longa de verão.
E o homem esperava, esperava
com a paciência vidente dos que sabem,
com a humildade atávica dos sem-nome,
que as velas do vento amainassem
e devolvessem o tempo aos homens.
Mas o vento rodopiava, violento,
p’lo meio da tarde longa de verão.
Dezembro 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
DESILUDIDO - redondilha maior e rima emparelhada
Tenho andado pensativo,
mesmo quase depressivo.
Então tomei um café
uma cola e um capilé
aqui no tasco da cantina
que m’ atirou a adrenalina
lá p’ra os anéis de Saturno,
o que me tornou taciturno
Conversei com meus botões
e vi que não tinha razões
para tal disposição,
ainda que o coração
quase me saltasse do peito
com tal falta de respeito
que quase me ensandeceu!
O que foi que aconteceu?
Nada, em boa verdade,
pequena futilidade
mas assaz inconveniente
que me irritou profundamente.
Sentia-me jovem, viçoso,
bonitão, bem cheiroso,
quando surge uma criança,
que mora na vizinhança
e me pergunta, sem mal:
- O senhor é o Pai Natal?
Dezembro 2009
mesmo quase depressivo.
Então tomei um café
uma cola e um capilé
aqui no tasco da cantina
que m’ atirou a adrenalina
lá p’ra os anéis de Saturno,
o que me tornou taciturno
Conversei com meus botões
e vi que não tinha razões
para tal disposição,
ainda que o coração
quase me saltasse do peito
com tal falta de respeito
que quase me ensandeceu!
O que foi que aconteceu?
Nada, em boa verdade,
pequena futilidade
mas assaz inconveniente
que me irritou profundamente.
Sentia-me jovem, viçoso,
bonitão, bem cheiroso,
quando surge uma criança,
que mora na vizinhança
e me pergunta, sem mal:
- O senhor é o Pai Natal?
Dezembro 2009
Assinar:
Postagens (Atom)