meu país é colo de mulher,
velha e seca.
meu país é oliveira milenar,
oca e estéril.
meu país é bicho cru e vil,
devorador de crias.
meu país é língua morta,
memória de verbo.
meu país é escárnio de cantiga,
fado adiado.
meu país é corpo amortalhado,
esvaído em vida.
oh meu país, pai, oceano!
oh meu país que sou eu!
Novembro 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
BEETHOVEN e ABRUNHOSA
CONTOS CURTOS ALGO SURREALISTAS (12)
BEETHOVEN E ABRUNHOSA
(em 4 andamentos)
ALLEGRO MA NON TROPPO
Beethoven: - Olha lá, oh coiso! Como te chamas?
Abrunhosa: - Abrunhosa, maestro!
Beethoven: - Abrunhosa maestro? Que raio de nome é esse?
Abrunhosa: - Abrunhosa vírgula maestro, maestro!
Beethoven: - Tá pior, agora ainda percebo menos, mas deixa lá, vou-te chamar Abrunhosa, não te importas, pois não?
Abrunhosa: - Preferiria Abrunhosa, maestro…
Beethoven: - Oh Abrunhosa, porque é que não vais …. deixa pra lá!
ANDANTE MOLTO MOSSO
Abrunhosa: - Oh maestro, o senhor é surdo?
Beethoven: - Ahn?
Abrunhosa: - O SENHOR É SURDO?
Beethoven: - Não grites que não sou surdo! E tu, és cego?
Abrunhosa: - Não, maestro. É por causa dos óculos escuros? Está na moda, é para ser cul!
Beethoven: - É para ser o quê? És gay?
Abrunhosa: - Sou cantor, maestro!
Beethoven: - És gay e cantor?
Abrunhosa: - Não, maestro, sou só cantor e sou do Porto. E muito macho!
Beethoven: - Ah, és aquele mocinho simpático que canta o Chico Fininho? Em alemão, nós dizemos Kiko Mager!
Abrunhosa: - Oh maestro! O senhor é amigo do dr. Alzheimer, não é?
ALLEGRO
Beethoven: - Tocas piano, oh Veloso?
Abrunhosa: - Sou Abrunhosa, maestro! E toco, maestro.
Beethoven: - Perguntei se tocavas piano!
Abrunhosa: - Toco piano, Maestro!
Beethoven: - Então toca aí … hummmm … a pastoral!
Abrunhosa: - Essa não conheço, Maestro, mas posso tocar o samba de uma nota só!
Beethoven: - Uma nota só? Não será pouco? Mas está bem, então vamu lá!
(3 notas, sempre a mesma, depois)
Beethoven: - Oh Veloso!
Abrunhosa: - É Abrunhosa, porra, Maestro!
Beethoven: - Como? Está bem, não precisas de ser grosso! Olha lá, não tens outra nota?
Abrunhosa: - Eu não, Maestro, mas posso perguntar ao Tom!
Beethoven: - Perguntar ao tom pela nota? Oh Veloso, já estás morto e ninguém te disse?
ALLEGRETTO
Abrunhosa: - Oh Maestro, posso cantar-lhe uma música da minha autoria?
Beethoven: - Tás louco? Nem penses!
Abrunhosa: - Obrigado, Maestro, então eu canto! É uma coisinha modesta mas, não desfazendo nas sinfonias ou lá o que é que o Maestro faz, teve grande sucesso! Até o Caetano Veloso quis cantar comigo!
Beethoven (em surdina): - Olha que outro!
Abrunhosa: - Diga, Maestro?
Beethoven: - Nada, nada, canta lá! (em surdina – Ainda bem que sou surdo!)
Abrunhosa: - Então é assim!
(Abrunhosa canta, Beethoven aproveita e limpa o nariz)
“Eu não sei, Que mais posso ser,
Um dia rei, Outro dia sem comer.
Por vezes forte, Coragem de leão,
às vezes fraco, Assim é o coração.
Eu não sei, Que mais te posso dar,
Um dia jóias, Noutro dia o luar.
Gritos de dor, Gritos de prazer,
Que um homem também chora,
Etc etc”
Beethoven: - Oh Abrunhosa!
Abrunhosa: - Sim, Maestro?
Beethoven: - Tá bom, tá bom, podes parar! Tens uma voz invulgar, quase erbrechenschafe! E o poema …. sim senhor! Nem sei o que diga!
Abrunhosa: - Oh Maestro, como estou feliz!
Beethoven: - Olha, já agora, porque é que não compras um bilhete só de ida para o Tibete?
(Cai o pano, envergonhado)
Novembro 2009
BEETHOVEN E ABRUNHOSA
(em 4 andamentos)
ALLEGRO MA NON TROPPO
Beethoven: - Olha lá, oh coiso! Como te chamas?
Abrunhosa: - Abrunhosa, maestro!
Beethoven: - Abrunhosa maestro? Que raio de nome é esse?
Abrunhosa: - Abrunhosa vírgula maestro, maestro!
Beethoven: - Tá pior, agora ainda percebo menos, mas deixa lá, vou-te chamar Abrunhosa, não te importas, pois não?
Abrunhosa: - Preferiria Abrunhosa, maestro…
Beethoven: - Oh Abrunhosa, porque é que não vais …. deixa pra lá!
ANDANTE MOLTO MOSSO
Abrunhosa: - Oh maestro, o senhor é surdo?
Beethoven: - Ahn?
Abrunhosa: - O SENHOR É SURDO?
Beethoven: - Não grites que não sou surdo! E tu, és cego?
Abrunhosa: - Não, maestro. É por causa dos óculos escuros? Está na moda, é para ser cul!
Beethoven: - É para ser o quê? És gay?
Abrunhosa: - Sou cantor, maestro!
Beethoven: - És gay e cantor?
Abrunhosa: - Não, maestro, sou só cantor e sou do Porto. E muito macho!
Beethoven: - Ah, és aquele mocinho simpático que canta o Chico Fininho? Em alemão, nós dizemos Kiko Mager!
Abrunhosa: - Oh maestro! O senhor é amigo do dr. Alzheimer, não é?
ALLEGRO
Beethoven: - Tocas piano, oh Veloso?
Abrunhosa: - Sou Abrunhosa, maestro! E toco, maestro.
Beethoven: - Perguntei se tocavas piano!
Abrunhosa: - Toco piano, Maestro!
Beethoven: - Então toca aí … hummmm … a pastoral!
Abrunhosa: - Essa não conheço, Maestro, mas posso tocar o samba de uma nota só!
Beethoven: - Uma nota só? Não será pouco? Mas está bem, então vamu lá!
(3 notas, sempre a mesma, depois)
Beethoven: - Oh Veloso!
Abrunhosa: - É Abrunhosa, porra, Maestro!
Beethoven: - Como? Está bem, não precisas de ser grosso! Olha lá, não tens outra nota?
Abrunhosa: - Eu não, Maestro, mas posso perguntar ao Tom!
Beethoven: - Perguntar ao tom pela nota? Oh Veloso, já estás morto e ninguém te disse?
ALLEGRETTO
Abrunhosa: - Oh Maestro, posso cantar-lhe uma música da minha autoria?
Beethoven: - Tás louco? Nem penses!
Abrunhosa: - Obrigado, Maestro, então eu canto! É uma coisinha modesta mas, não desfazendo nas sinfonias ou lá o que é que o Maestro faz, teve grande sucesso! Até o Caetano Veloso quis cantar comigo!
Beethoven (em surdina): - Olha que outro!
Abrunhosa: - Diga, Maestro?
Beethoven: - Nada, nada, canta lá! (em surdina – Ainda bem que sou surdo!)
Abrunhosa: - Então é assim!
(Abrunhosa canta, Beethoven aproveita e limpa o nariz)
“Eu não sei, Que mais posso ser,
Um dia rei, Outro dia sem comer.
Por vezes forte, Coragem de leão,
às vezes fraco, Assim é o coração.
Eu não sei, Que mais te posso dar,
Um dia jóias, Noutro dia o luar.
Gritos de dor, Gritos de prazer,
Que um homem também chora,
Etc etc”
Beethoven: - Oh Abrunhosa!
Abrunhosa: - Sim, Maestro?
Beethoven: - Tá bom, tá bom, podes parar! Tens uma voz invulgar, quase erbrechenschafe! E o poema …. sim senhor! Nem sei o que diga!
Abrunhosa: - Oh Maestro, como estou feliz!
Beethoven: - Olha, já agora, porque é que não compras um bilhete só de ida para o Tibete?
(Cai o pano, envergonhado)
Novembro 2009
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
ÓRGÃOS FALANTES - FÁBULA FULMINANTE EM 3 ATOS
1º ATO
Miocárdio: - Oh homem, pára de pensar!
Neurónio: - Não consigo, está na minha natureza. E tu, estás bem?
Miocárdio: - Olha, nem sei, ando aqui com uma pontada, assim … uma sensação de ansiedade… e depois eu emociono-me muito, qualquer coisa me deixa a chorar, parece que tenho o coração ao pé da boca!
Neurónio: - Deve ser do tempo, também tenho uma dor de cabeça que não me deixa há três dias! Eu é ao contrário, penso demais…. passo o tempo a remoer, a remoer, faço contas, confiro tudo, procuro a lógica, e depois… às vezes não decido nada!
Miocárdio: - Não penses mais nisso! Gostei de te ver, e abraços aos irmãos todos!
Neurónio: - Serão entregues! E tu, amigo do peito, … tem cuidado com as gorduras, se não …
2º ATO
Estômago: - Ainda bem que te encontro! Ando há uns dias a tentar falar-te, mas não tenho passado muito bem, esta sensação permanente de enfartado dá cá uma disposição horrível! Devo ter comido alguma coisa que não me assentou bem, e depois os gases…
Intestino: - Pois é, também te queria falar! E precisamente por causa dos gases! Olha lá, tem paciência, fazes-me passar cada má figura! Vê lá se tens cuidado com o que comes e, já agora, com o que bebes!
Estômago: - Tens razão! Sei que tenho vindo a abusar. Os amigos lá de cima já se queixaram que as canalizações andam a ficar entupidas. O meu problema é a carne vermelha e a pinga! E os doces, meu deus, e os doces …
Intestino: - Está bem, pronto, deixa lá, mas tem cuidado contigo! E não te esqueças que quem se lixa sou eu, que ando sempre para aqui cheio que nem um odre! E agora desculpa que tenho que ir ali fazer um servicinho a correr!
3º ATO E EPÍLOGO DRAMÁTICO
Neurónio: - Eu bem gostaria de entender! Tantas, mas tantas vezes que o avisei que não podia comer daquela maneira e ele …. nada, não ligava nenhuma! Pois que sim, pois que também, mas nada!
Intestino: - Sabes o que te digo? Cá por mim foi um alívio!
Neurónio: - Também é verdade, eu não pensava noutra coisa!
Miocárdio: - Nem mais! Enfartei-me de vez!
FIM
Miocárdio: - Oh homem, pára de pensar!
Neurónio: - Não consigo, está na minha natureza. E tu, estás bem?
Miocárdio: - Olha, nem sei, ando aqui com uma pontada, assim … uma sensação de ansiedade… e depois eu emociono-me muito, qualquer coisa me deixa a chorar, parece que tenho o coração ao pé da boca!
Neurónio: - Deve ser do tempo, também tenho uma dor de cabeça que não me deixa há três dias! Eu é ao contrário, penso demais…. passo o tempo a remoer, a remoer, faço contas, confiro tudo, procuro a lógica, e depois… às vezes não decido nada!
Miocárdio: - Não penses mais nisso! Gostei de te ver, e abraços aos irmãos todos!
Neurónio: - Serão entregues! E tu, amigo do peito, … tem cuidado com as gorduras, se não …
2º ATO
Estômago: - Ainda bem que te encontro! Ando há uns dias a tentar falar-te, mas não tenho passado muito bem, esta sensação permanente de enfartado dá cá uma disposição horrível! Devo ter comido alguma coisa que não me assentou bem, e depois os gases…
Intestino: - Pois é, também te queria falar! E precisamente por causa dos gases! Olha lá, tem paciência, fazes-me passar cada má figura! Vê lá se tens cuidado com o que comes e, já agora, com o que bebes!
Estômago: - Tens razão! Sei que tenho vindo a abusar. Os amigos lá de cima já se queixaram que as canalizações andam a ficar entupidas. O meu problema é a carne vermelha e a pinga! E os doces, meu deus, e os doces …
Intestino: - Está bem, pronto, deixa lá, mas tem cuidado contigo! E não te esqueças que quem se lixa sou eu, que ando sempre para aqui cheio que nem um odre! E agora desculpa que tenho que ir ali fazer um servicinho a correr!
3º ATO E EPÍLOGO DRAMÁTICO
Neurónio: - Eu bem gostaria de entender! Tantas, mas tantas vezes que o avisei que não podia comer daquela maneira e ele …. nada, não ligava nenhuma! Pois que sim, pois que também, mas nada!
Intestino: - Sabes o que te digo? Cá por mim foi um alívio!
Neurónio: - Também é verdade, eu não pensava noutra coisa!
Miocárdio: - Nem mais! Enfartei-me de vez!
FIM
sábado, 21 de novembro de 2009
OH VARA (Cantiga de Escárnio e Maldizer)
A cada facho o seu tacho,
a cada pé seu capacho!
Oh Vara!
A cada idiota um penacho.
Só podes estar borracho!
Oh Vara!
Que falta de coração
e de vergonha na cara!
Oh Vara!
És um democrata-cristão
Que não saiu do armário
Oh Vara
Dizes que és socialista
E não conheces o abecedário
Oh Vara
Ganhas salário de nobre
Mas choras de pena p’lo pobre
Oh Vara
Já chega de seres bandalho,
olh’ó teu cabelo grisalho!
Oh Vara, vai p’ró ..…. trabalho!
Novembro 2009
a cada pé seu capacho!
Oh Vara!
A cada idiota um penacho.
Só podes estar borracho!
Oh Vara!
Que falta de coração
e de vergonha na cara!
Oh Vara!
És um democrata-cristão
Que não saiu do armário
Oh Vara
Dizes que és socialista
E não conheces o abecedário
Oh Vara
Ganhas salário de nobre
Mas choras de pena p’lo pobre
Oh Vara
Já chega de seres bandalho,
olh’ó teu cabelo grisalho!
Oh Vara, vai p’ró ..…. trabalho!
Novembro 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
LINHAS E ENTRELINHAS
As entrelinhas são verdades
de que as linhas se envergonham.
Nas linhas se arruma, aprumada,
a mentira, arrogante e descarada.
Entrelinhas se esconde, discreta,
modesta e frágil, a verdade.
Porque não escrevemos direito,
do princípio ao fim, numa linha?
Dizem que até os deuses
escrevem por linhas tortas, e são deuses!
Porque não podemos nós?
Direitas ou tortas, as linhas
são metafóricas formas
em que a falácia se enfeita
de colorida ambiguidade
de que logo alguns se aproveitam
e se apropriam da verdade
Pode, ainda, acontecer,
numa ou noutra ocasião,
que as linhas falem verdade,
aumentando a confusão!
Neste caso, inversamente,
são mentira, as entrelinhas?
Cá por mim, alinho as linhas
Sem ponto-de-cruz ou bordado!
Não! é não! não é talvez,
Nem o sim pode ser nim!
Dois mais dois não é três!
só se for nas entrelinhas!)
Novembro 2009
de que as linhas se envergonham.
Nas linhas se arruma, aprumada,
a mentira, arrogante e descarada.
Entrelinhas se esconde, discreta,
modesta e frágil, a verdade.
Porque não escrevemos direito,
do princípio ao fim, numa linha?
Dizem que até os deuses
escrevem por linhas tortas, e são deuses!
Porque não podemos nós?
Direitas ou tortas, as linhas
são metafóricas formas
em que a falácia se enfeita
de colorida ambiguidade
de que logo alguns se aproveitam
e se apropriam da verdade
Pode, ainda, acontecer,
numa ou noutra ocasião,
que as linhas falem verdade,
aumentando a confusão!
Neste caso, inversamente,
são mentira, as entrelinhas?
Cá por mim, alinho as linhas
Sem ponto-de-cruz ou bordado!
Não! é não! não é talvez,
Nem o sim pode ser nim!
Dois mais dois não é três!
só se for nas entrelinhas!)
Novembro 2009
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
O PERCURSO
O percurso,
que parece longo e extenuante,
não dura mais que um bater de asas de libelinha.
Nascemos
e logo crescemos, correndo
para uma vida que não pedimos nem agradecemos.
Vivemos
e queremos tudo hoje, às mãos cheias,
que o amanhã é futuro pretérito e o tempo não se conta.
Distraídos,
o corpo vai amadurando, como fruta
que quer voltar à terra, a saudade da terra vai crescendo.
Atentamos,
de repente, que o caminho se encurta
e os olhos baços se confundem nos passos trôpegos.
Esquecemos
o que somos e vivemos o que fomos
em flashbacks recorrentes que antecipam a despedida.
Morremos
sem um adeus à vida que não pedimos.
Novembro 2009
que parece longo e extenuante,
não dura mais que um bater de asas de libelinha.
Nascemos
e logo crescemos, correndo
para uma vida que não pedimos nem agradecemos.
Vivemos
e queremos tudo hoje, às mãos cheias,
que o amanhã é futuro pretérito e o tempo não se conta.
Distraídos,
o corpo vai amadurando, como fruta
que quer voltar à terra, a saudade da terra vai crescendo.
Atentamos,
de repente, que o caminho se encurta
e os olhos baços se confundem nos passos trôpegos.
Esquecemos
o que somos e vivemos o que fomos
em flashbacks recorrentes que antecipam a despedida.
Morremos
sem um adeus à vida que não pedimos.
Novembro 2009
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